Paradoxo da Moeda
Dinheiro em Camadas
A Proposta da NITI
O Sistema Monetário de Hayek
A unificação da moeda por Mises
Soluções Atuais
Stablecoins Centralizadas (IOU)
Stablecoins Algorítmicas
Sintéticos
Diversidade de tokens
Padronização
Discreet Log Contracts
Implementação do Modelo de Hayek
Cascading Discreet Log Contracts
Colaterais Múltiplos
Lombard Credit
Referências

NITI : Non-custodial Interlinked Tokenization Infrastructure

Versão RASCUNHO 0.3.9

contato@niti.finance

Dr. Caleb Isaac

Resumo

NITI é um protocolo para criação de derivativos sintéticos no Bitcoin pela Lightning Network. Nodes poderão, em autocustódia, criar instrumentos financeiros como stablecoins, futuros, opções, empréstimos e muito mais através de Cascading Discreet Log Contracts. A missão da NITI é implementar o sistema monetário livre proposto por Hayek utilizando o bitcoin como lastro único.

1. Introdução

A "Non-custodial Interlinked Tokenization Infrastructure" (NITI) é uma proposta para criar uma infraestrutura de tokenização interligada e sem custódia, que permite a emissão de stablecoins chamadas "Sintéticos". Esses Sintéticos são saldos de satoshis que simulam o preço de outros ativos, atuando como moedas privadas em livre concorrência.

Objetivo

A NITI visa resolver a questão de o #Bitcoin não ser amplamente utilizado como meio de troca ou unidade de contagem, apesar de ser uma importante reserva de valor. A proposta é baseada em um sistema de camadas, onde:

Conceitos Chave

Dinheiro em Camadas: A ideia de que diferentes camadas de moeda (ouro em pepitas, barras, certificados, notas bancárias) servem a diferentes funções (reserva de valor, meio de troca, unidade de contagem). Bitcoin maximiza suas funções na forma crua como reserva de valor, e a Lightning Network como meio de troca.

Paradoxo da Moeda: Conforme a Lei de Gresham, agentes racionais preferem gastar moedas com menor potencial como reserva de valor enquanto acumulam as de maior potencial. Isso reduz o uso do Bitcoin como meio de troca.

Soluções Atuais e Proposta NITI

Stablecoins Centralizadas (IOU): Exemplo, Tether (USDT). Elas são lastreadas por reservas fiduciárias mantidas por uma entidade centralizada, carregando risco de contraparte e possível censura.

Stablecoins Algorítmicas: Exemplo, MakerDAO. Não possuem um emissor centralizado, mas exigem hipercolateralização e conhecimento técnico específico, o que aumenta a percepção de risco para o usuário comum.

Proposta NITI: Baseada nas ideias de Hayek sobre a desestatização do dinheiro, a NITI permite a emissão de diversas stablecoins por qualquer nó, utilizando Discreet Log Contracts (DLCs) no Bitcoin. Estas stablecoins podem ser lastreadas por uma ampla variedade de ativos, oferecendo mais opções além das moedas fiduciárias tradicionais.

Implementação

Discreet Log Contracts (DLCs): Contratos inteligentes no Bitcoin que permitem a criação de pagamentos condicionais. Alice e Bob podem criar contratos que dependem de dados externos, com a NITI facilitando o pareamento e coordenação desses contratos.

Cascading DLCs: Interligação de múltiplos DLCs em sequência, criando uma rede de contratos financeiros programáveis.

Uso de Colaterais Múltiplos: Utilização de uma cesta diversificada de ativos como colateral para reduzir a volatilidade e o risco.

A NITI propõe uma plataforma onde qualquer nó pode emitir stablecoins, criando um sistema de moedas privadas em concorrência livre. Isso potencialmente leva a moedas mais estáveis e adaptadas às necessidades do mercado, alinhando-se com a visão de Hayek sobre a desestatização do dinheiro.

Sobre a implementação e arquitetura da NITI, que envolve conceitos técnicos específicos como Discreet Log Contracts (DLCs), Cascading DLCs, e o uso de colaterais múltiplos.

Discreet Log Contracts (DLCs)

Os DLCs são um tipo de contrato inteligente no Bitcoin, onde duas partes (Alice e Bob) podem fazer apostas ou acordos baseados em dados do mundo real. Aqui está uma visão mais aprofundada sobre como eles funcionam:

Funcionamento Básico:

Alice e Bob desejam criar um contrato que depende de um evento externo, por exemplo, a variação do preço do Bitcoin. Eles criam transações pré-assinadas que serão executadas dependendo do resultado fornecido por um oráculo (uma entidade confiável que fornece dados). Ambos mantêm a custódia de seus Bitcoins durante o contrato, o que significa que seus fundos estão seguros até que o resultado seja determinado. O oráculo fornece a assinatura que libera a transação correta, baseando-se no evento externo.

Cascading Discreet Log Contracts

A arquitetura de Cascading DLCs permite que múltiplos DLCs sejam interligados em sequência. Isso cria um sistema mais complexo e automatizado. Veja como isso funciona:

Encadeamento de DLCs: Suponha que Alice e Bob configuram um primeiro DLC que depende do valor do BTCUSD em um determinado período. Eles configuram transações possíveis T = {T1, T2, ..., Tn} usando Adaptor Signatures, onde cada Ti corresponde a um intervalo de preço do BTCUSD. Após o período estipulado, o oráculo assina o resultado (por exemplo, uma variação de 10% a 20%). A NITI publica essa mensagem assinada no Nostr (um protocolo descentralizado de comunicação). Alice e Bob derivam a chave privada para a transação vencedora com base na assinatura do oráculo. Se o resultado do primeiro DLC for observado, eles configuram um segundo DLC para ações subsequentes, como uma compra periódica de Bitcoin.

Colaterais Múltiplos A utilização de uma cesta diversificada de colaterais reduz a volatilidade e o risco. Aqui está uma explicação mais detalhada: Lombard Loans (Créditos Lombard): Empréstimos Lombard utilizam ativos líquidos como garantia. No contexto da NITI, isso significa usar uma variedade de ativos sintéticos lastreados em Bitcoin. A diversificação desses ativos (por exemplo, ouro, dólar, ações) mitiga a volatilidade e reduz o risco de chamadas de margem.

Diversificação do Colateral: Ao utilizar uma cesta de ativos sintéticos descorrelacionados, a volatilidade total do colateral é reduzida. Isso permite que os contratos DLC sejam mais estáveis e seguros, mesmo em mercados voláteis.

Pareamento Descentralizado com Nostr A NITI facilita o pareamento descentralizado entre partes interessadas utilizando o protocolo Nostr. Veja como isso é implementado:

Protocolo Nostr: O Nostr permite comunicação descentralizada e segura. Alice e Bob publicam de forma criptografada suas intenções de criar um contrato DLC no Nostr. Outros usuários do Nostr podem ver esses anúncios e manifestar interesse. Uma vez que Alice e Bob se encontram e verificam que seus interesses são compatíveis, eles prosseguem com a criação do DLC. A NITI mantém uma lista de oráculos confiáveis no Nostr, baseando-se na precisão e frequência dos dados fornecidos.

Resumo da Arquitetura DLCs: Contratos inteligentes no Bitcoin que permitem transações condicionais baseadas em dados do mundo real. Cascading DLCs: Encadeamento de múltiplos DLCs, permitindo a criação de contratos financeiros complexos e automatizados. Colaterais Múltiplos: Uso de uma cesta diversificada de ativos sintéticos para reduzir a volatilidade e o risco. Nostr para Pareamento Descentralizado*: Protocolo descentralizado que facilita o encontro e a coordenação entre partes interessadas na criação de contratos DLC. A NITI, atuando como uma coordenadora, fornece a infraestrutura tecnológica necessária para que essas interações ocorram de forma segura e eficiente, garantindo que qualquer nó possa emitir stablecoins seguindo um protocolo padronizado, aumentando a confiança e a usabilidade dessas moedas no mercado.

2. Paradoxo da Moeda

Derivado da Lei de Gresham, decorre o "Paradoxo da Moeda":

”ceteris paribus, agentes racionais preferem despender primeiro moedas com menor potencial como reserva de valor enquanto acumulam as moedas com maior potencial como reserva de valor para trocas futuras.”

Sendo a moeda menos inflacionária em existência e a com mais potencial como reserva de valor de longo prazo, o bitcoin tende a ser acumulado e não gasto. Segundo Mankiw em "Macroeconomia", o dinheiro possui três funções: Reserva de Valor (transferir poder de compra do presente para o futuro), Meio de Troca (facilitar trocas) e Unidade de Contagem (determinar preços relativos).

O bitcoin em sua forma crua maximiza a função de Reserva de Valor, enquanto outras camadas buscam atender as restantes funções, com cada uma possuindo atributos diferentes e focos distintos para exercer sua função de forma eficiente.

3. Dinheiro em Camadas

Elaborado extensivamente no artigo de Alan Schramm “Bitcoin, o sistema de liquidação final”, o conceito de Dinheiro em Camadas afirma que o dinheiro possui uma camada base a partir da qual outras podem ser construídas. O ouro, por exemplo, não era utilizado na sua forma bruta para as três principais funções monetárias, mas sim a partir de camadas especializadas que o levariam a ser útil para ser usado como dinheiro:

A visão de que o bitcoin em sua forma crua maximizaria as todas as funções da moeda não condiz com a história do dinheiro na humanidade.

Se quisermos que bitcoin seja utilizado como meio de troca e unidade de contagem, é preciso reconhecer o Paradoxo da Moeda e o conceito de Dinheiro em Camadas para que seja criado um sistema monetário com base no bitcoin que atende às necessidades do mercado.

Nossa proposta é que o Bitcoin também seja dividido em camadas:

4. A Proposta da NITI

A missão da NITI é o sistema monetário proposto por Hayek em 1976, em “Desestatização do Dinheiro”, criando um protocolo para que moedas com preço relativo estável possam concorrer livremente, utilizando um único lastro: o bitcoin.

5. O Sistema Monetário de Hayek

Hayek, em sua última obra, "A Desestatização do Dinheiro" (1976) propôs um novo sistema monetário.

Nesse sistema, instituições privadas poderiam emitir suas próprias moedas, que circulariam livremente no mercado. Os usuários escolheriam usar as moedas que considerassem mais estáveis e confiáveis. As moedas que não mantivessem seu valor perderiam a confiança do público e seriam abandonadas em favor de alternativas melhores.

Segundo Hayek, esse sistema de concorrência monetária levaria a moedas mais estáveis e adequadas às necessidades do mercado. As instituições emissoras teriam fortes incentivos para manter o valor de suas moedas, pois sua reputação e negócios dependeriam disso. Elas buscariam atender às demandas dos usuários por moedas com diferentes características, como maior ou menor estabilidade, entre outros.

6. A unificação da moeda por Mises

"É bastante certo que a unificação seria desejável ao sistema monetário. O uso simultâneo de tipos diferentes de dinheiro envolve tantas desvantagens e complica tanto as trocas que a unificação do sistema monetário certamente seria válida em qualquer caso."

Em seu livro, de 1912, "The Theory of Money and Credit", Mises conclui que a humanidade tende a usar um único dinheiro e este tende a um monopólio natural.

"Existe uma tendência inevitável onde bens menos aptos são rejeitados um a um até, enfim, sobrar apenas um deles usado universalmente como meio de troca - em outras palavras: Dinheiro"

Esse fenômeno aplica-se ddesde o início da sociedade e continua até hoje: dinheiro é o bem mais líquido, essa é sua essência, seu raison d'être: ser o bem comum facilita as trocas privadas. Adicionar uma outra troca (entre dinheiros) para fazer comércio é uma adicionar ineficiência. A missão da NITI é implementar o sistema de monetário de Hayek integrado com a lógica de Mises: Um sistema live de moedas privadas, todas lastreados em um único ativo, o bitcoin.

7. Soluções Atuais

O Artigo de Renato Amoedo, "Stables bancárias, Algorítmicas e Sintéticos" classifica stablecoins em três categorias distintas que representam o status quo das soluções atuais aplicadas a esse problema:

7.1 Stablecoins Centralizadas (IOU)

As stablecoins IOU são ativos digitais que derivam seu valor por serem lastreadas por reservas de moeda fiduciária ou outros ativos tradicionais mantidos por uma entidade centralizada. Exemplos incluem Tether (USDT), USD Coin (USDC) e DePix. Essas stablecoins são essencialmente notas promissórias tokenizadas emitidas por empresas privadas, ou seja, carregam um risco significativo de contraparte pois você perde a custódia dos seus bitcoins e deve confiar que o emissor está mantendo honestamente reservas completas e que resgatará os tokens conforme prometido.

Casos anteriores de falta de transparência e auditorias incompletas corroeram essa confiança com golpes e mau uso do colateral, provocando perda de paridade do token. Além disso, essas stablecoins centralizadas estão sujeitas a regulamentações governamentais e podem ser censuradas ou encerradas a qualquer momento.

Apesar dos problemas citados, elas são utilizadas em larga escala: o Tether (USDT) é a terceira maior criptomoeda em existência, e é muito utilizado como meio de troca em países de terceiro mundo como um dólar tokenizado.

7.2 Stablecoins Algorítmicas

Em contraste com as Stablecoins IOU, que reintroduzem o risco centralizado de contraparte, as Stablecoins Algorítmicas não possuem emissor centralizado ou reservas fiduciárias. Elas são lastreadas por um ativo digital, e a conversão é mediada por smart contracts. Alguns exemplos são o USD da 10101, MakerDAO e TerraUSD.

Apesar delas possuírem claras vantagens em relação a stablecoins IOU, possuem um enorme custo a mais: a hipercolaterização. Todas essas moedas requerem lastro em ativos maior do que o valor da stablecoin fiat gerada. Além disso, o usuário precisa ter o conhecimento técnico do algoritmo específico usado para manter essa paridade, que é diferente em cada moeda, e também conhecimento sobre qual é o ativo digital utilizado como lastro.

Dessa forma, para o usuário comum, a percepção de risco é alta, pois esses empreendimentos não seguem um protocolo padrão com um ativo padrão como reserva. No caso da TerraUSD o risco era tão alto que entrou em colapso: a garantia usada eram ativos digitais fracos com valor atrelado ao protocolo. Para esse usuário, utilizar uma solução centralizada e legalizada é mais seguro do que uma desconhecida a ele, embora com um mecanismo supostamente mais seguro.

Para o usuário comum, esse custo é muito maior do que os benefícios de se utilizar uma stablecoin centralizada, que possui um custo de 1:1, ao invés de um custo de, vamos supor, 2:1 necessário para gerar a hipercolaterização das stablecoins algorítmicas. O usuário comum prefere tomar o risco temporário da Tether não sucumbir ao invés de despender capital para a criação do lastro. Todo o foco desses protocolos está em criar moedas fiats e competir diretamente com IOUs, usando os seus próprios mecanismos, o que acreditamos não ser uma estratégia viável de mercado.

7.3 Sintéticos


Esses sintéticos poderão ter seu valor atrelado a commodities, ações, índices, taxas ou qualquer ativo que tenha um preço publicamente verificável. Cada emissor poderá escolher a cesta de ativos que lastreará seu sintético, buscando atender a nichos específicos do mercado. Os usuários, por sua vez, poderão escolher usar os sintéticos que melhor atendam suas necessidades de estabilidade, hedge, exposição a determinados setores, etc.

Diferentemente das stablecoins algorítmicas atuais, que têm seus próprios mecanismos complexos e arriscados de estabilização, todos os sintéticos na NITI seguirão um mesmo modelo padrão usando DLCs. Isso trará transparência, segurança e facilidade de uso para os usuários. Eles saberão que todos os sintéticos, independente do emissor, seguem a mesma lógica de funcionamento.

8. Diversidade de tokens

Ao invés de competir diretamente com IOUs, nossa proposta é implementar algo que elas são incapazes de fazer pela natureza do seu sistema: a diversidade de tokens. A Tether possui reservas diretas para seu lastro e isso é possível porque existe alta liquidez no mercado tradicional para Dólar, contratos futuros, títulos, etc. Entretanto, se quisessem criar um token que copia o valor do Diesel, o que seria muito útil para caminhoneiros possuírem um hedge contra seus custos, encontrariam dificuldades. Podem tentar utilizar estoques do combustível como lastro, mas isso possui altos custos e inviabilizaria a monetização dessa reserva. Seria até possível usar uma cesta dinâmica de ativos tradicionais para simular esse preço, mas é possível observar como esse sistema aumentaria rapidamente em complexidade e reduziria a lucratividade.

No caso de criar uma stablecoin que tem paridade com a variação na taxa de transação (sat/vB) do Bitcoin, não existem instrumentos legais no mercado financeiro tradicional para criar essa reserva ou monetizar ela. Esse tipo de stablecoin não pode ser criado por IOUs, e acreditamos que é nesse tipo de ativo que as stablecoins algorítmicas tem vantagem competitiva.

Os sintéticos da NITI podem ter paridade com variações de clima, volume de safras, acontecimentos políticos, taxas de transação no Bitcoin, médias de preço (Ex.: Preço médio do Bitcoin em 200 semanas), índices de ações e qualquer outro ativo que possui dados públicos e fontes de informação confiáveis e aceitas pelas duas partes do contrato. Diferentemente de stablecoins IOU, seus sistema não depende de lastro direto, mas apenas de um contrato privado entre duas partes que utilizam bitcoin como colateral, permitindo que sejam criados sintéticos específicos para usos de casos peculiares. A NITI encontrou esse vazio no mercado, visto que, embora as stablecoins algorítmicas tenham a capacidade técnica de gerar tokens de qualquer coisa que possua preços públicos, elas focam em copiar moedas fiat e competir com stablecoins IOU.

9. Padronização

As stablecoins algorítmicas apresentam uma complexidade alta aos usuários por seguirem seus protocolos individuais, que podem ser falhos, como foi o caso da TerraUSD. O usuário então precisa estudar especificamente aquele processo em profundidade para conhecer esses riscos e analisar economicamente a viabilidade da paridade dos tokens oferecidos. Isso é inviável ao usuário comum, que na prática toma um alto risco ao participar de um sistema que ele não conhece e é único para aquele protocolo.

Na solução proposta por Hayek, moedas privadas diversas concorreriam livremente no mercado privado. Ele argumenta que nossa visão sobre utilizar uma única moeda é baseada no costume com o monopólio estatal e que deveríamos usar vários sintéticos (stablecoins sem lastro direto), baseados em variadas cestas de ativos para os diferentes usos do dinheiro. A NITI tem o objetivo de trazer esse sistema à vida, mais de 50 anos depois de sua concepção. Por isso, a NITI em si não é um banco oferecendo stablecoins, mas sim um protocolo onde agentes de mercado podem utilizar para criar suas próprias stablecoins, que necessariamente precisam aderir ao modelo do protocolo.

Dessa forma, utilizando empresas que seguem o protocolo NITI para criar essas stablecoins, o cliente sabe que está utilizando uma plataforma segura, independentemente de qual token ele está comprando. Com a padronização de stablecoins algorítmicas, é reduzido em muito a complexidade e a percepção de risco para o cliente. TerraUSD jamais poderia operar na NITI, pois seu sistema não seguiria o protocolo padrão aceito e conhecido por todos.

10. Modelo

10.1 Discreet Log Contracts

Discreet Log Contracts (DLCs) são um tipo de smart contract no Bitcoin que permite que duas partes façam apostas ou acordos de forma privada, utilizando dados do mundo real para determinar o resultado. Seu funcionamento é similar ao da Lightning Network, mas sua função é, ao invés de criar canais de micropagamentos off-chain, criar canais de pagamentos condicionais.

Modelo DLC loading=

DLCs usam um modelo similar à Lightning Network, mas ao invés de serem utilizados para pagamentos genéricos através de um canal de pagamentos, eles utilizam um canal para pagamentos condicionais, que dependem de um dado externo para serem executados. Alice e Bob mantém a custódia de seus Bitcoins, de forma análoga a um canal da Lightning Network, e a apenas uma das milhares de transações pré-assinadas por ambos pode ser executada, aquela na qual a assinatura do oráculo confirma o resultado da aposta (seja preço, acontecimento político, climático, etc.). A primeira aposta em DLCs ocorreu entre dois importantes nomes do ecossistema Bitcoin: o criador do BTC Pay Server e o co-fundador da Suredbits. Eles apostaram no resultado das eleições presidenciais americanas de 2020.

11. Implementação do Modelo de Hayek

A NITI não é Alice, nem Bob, nem o Oráculo. A NITI atua com uma coordenadora entre todas essas partes, fornecendo a infraestrutura tecnológica para que a Alice e Bob consigam se encontrar e escolher um oráculo com alta reputação. Isso envolve superar um dos desafios citados no Whitepaper do Discreet Log Contracts: “Decentralized Matching“, ou Pareamento Descentralizado.

11.1 Pareamento Descentralizado

A NITI utiliza protocolos descentralizados de comunicação, como o Nostr, para facilitar o pareamento entre as partes interessadas em criar um contrato DLC (Alice e Bob) e o oráculo que fornecerá os dados externos necessários para a execução do contrato.

O Nostr (Notes and Other Stuff Transmitted by Relays) é um protocolo aberto e descentralizado para comunicação online. Ele permite que os usuários publiquem conteúdo, interajam e troquem mensagens de forma segura e privada, sem depender de plataformas centralizadas. No Nostr, os usuários mantêm controle total sobre sua identidade e dados, utilizando criptografia de chave pública.

Através do Nostr, Alice e Bob podem publicar de forma criptografada suas intenções de fazer um contrato, especificando os termos desejados (ativo, data de expiração, faixa de preço, etc). Esses anúncios ficam visíveis para outros usuários do Nostr, que podem então manifestar interesse caso tenham intenção compatível. Uma vez que Alice e Bob se encontrem e verifiquem que seus interesses são complementares, eles podem então prosseguir com a criação do contrato DLC propriamente dito.

Além disso, a NITI mantém uma lista de oráculos confiáveis no Nostr, oráculos que publicam periodicamente seus dados de forma permanente, tendo sua reputação baseada na precisão e na frequência com que esses dados são transmitidos. Alice e Bob podem então escolher em conjunto um desses oráculos para fornecer os dados externos necessários para a execução do contrato DLC. Essa escolha é crucial, pois a integridade e precisão dos dados fornecidos pelo oráculo são fundamentais para o bom funcionamento do contrato.

Todo esse processo de pareamento acontece de forma descentralizada, sem que Alice e Bob precisem confiar suas informações a intermediários. O Nostr atua apenas como um intermediador, permitindo que as partes se encontrem e escolham um oráculo de forma eficiente e privada.

12. Cascading Discreet Log Contracts

Consiste na interligação de múltiplos Discreet Log Contracts (DLCs) em sequência ou cascata. Essa arquitetura possibilita a criação de instrumentos financeiros complexos e automatizados no Bitcoin. A ideia central é que o resultado verificado de um DLC possa servir automaticamente como gatilho para um próximo DLC pré-configurado pelas partes, criando assim uma cadeia de contratos condicionalmente interligados. Considerando um exemplo prático, suponha que Alice e Bob configuram um primeiro DLC onde o resultado depende da variação do valor do dólar em relação ao bitcoin (BTCUSD) em um determinado período. Eles antecipadamente configuram um conjunto de transações potenciais T = {T1, T2, ..., Tn} usando Adaptor Signatures, onde cada transação Ti corresponde a um intervalo possível de variação do BTCUSD, codificado na condição Ci. Ao final do período estipulado, o oráculo assina o resultado observado, por exemplo, Ck = "BTCUSD variou entre 10% e 20%". A NITI, atuando como coordenadora, publica essa mensagem assinada pelo oráculo no Nostr. Alice e Bob podem então derivar a chave privada correspondente à transação vencedora Tn através da fórmula:

Tnk = α + βH(Ck)

onde α e β são os segredos privados de Alice e Bob, respectivamente, e H é uma função hash criptográfica. Supondo que Alice e Bob desejem ativar um segundo DLC se o resultado Ck for observado, eles preparam um novo conjunto Tm = {T1, T2, ..., Tn} de transações potenciais para esse segundo DLC, onde cada Sj representa uma compra periódica de bitcoin. As chaves públicas dessas transações são derivadas incorporando a condição Ck do primeiro DLC:

Tn'kj = α'G + β'H(Ck | Dj)

onde G é um gerador da curva elíptica, α' e β' são novos segredos, e Dj codifica os detalhes da compra periódica. Quando a NITI publica a mensagem assinada com o resultado Ck no Nostr, Alice e Bob podem derivar a chave privada de uma transação Tn específica e ativar o segundo DLC:

Sn'kj = α' + β'H(Ck | Dj)

Este processo pode ser repetido, encadeando múltiplos Discreet Log Contracts (DLCs) onde o resultado publicado pela NITI de um contrato serve como condição pré-imagem para ativar o próximo na cadeia, tudo operando de forma descentralizada via mensagens assinadas no Nostr. A NITI não intermedia a execução dos DLCs individuais, mas facilita a publicação dos resultados assinados pelo oráculo, permitindo que Alice e Bob ativem novos DLCs na cadeia conforme necessário. Esta combinação de DLCs com Adaptor Signatures e Nostr abre caminho para a construção de uma rede descentralizada de contratos financeiros programáveis diretamente na camada base do Bitcoin.

13. Colaterais Múltiplos

Em DLCs, é comum utilizar apenas um ativo digital como colateral, especialmente o bitcoin. Porém, a NITI emprega Lombard Loans (Créditos Lombard) que permitem o uso de uma cesta diversificada de ativos sintéticos lastreados em Bitcoin como colateral.

Essa abordagem traz vantagens significativas, pois o Bitcoin é um ativo extremamente volátil. Ao diversificar o colateral com outros ativos sintéticos descorrelacionados, como ouro, dólar, ações etc., a volatilidade total da cesta de colateral é reduzida, mitigando o risco de chamadas de margem.

14. Lombard Credit

Os Lombard Loans, ou Créditos Lombard, são uma modalidade tradicional de empréstimo onde ativos líquidos são utilizados como garantia ou colateral. Tradicionalmente oferecidos por bancos privados a clientes de alta renda, os Lombard Loans permitem que os tomadores de empréstimo acessem liquidez sem precisar vender seus ativos.

No mercado tradicional, um Lombard Loan funciona da seguinte forma: O cliente utiliza seus ativos (ações, títulos, fundos etc.) como colateral para o empréstimo. O banco então empresta uma quantia em dinheiro com base em uma porcentagem do valor desses ativos dados em garantia. O cliente paga juros periódicos sobre o valor emprestado. Se o valor dos ativos dados em colateral cair abaixo de um limite pré-determinado em relação ao valor do empréstimo, ocorre uma chamada de margem. Nesse caso, o cliente precisa depositar mais ativos como colateral para recompor a margem de garantia exigida pelo banco. Se o cliente não conseguir recompor essa margem, o banco executa ou liquida os ativos dados inicialmente como colateral para quitar o empréstimo.

Na plataforma NITI, os Lombard Loans são a base para a geração de sintéticos lastreados em múltiplos ativos. Por exemplo, Alice pode usar uma combinação de:

como colateral para criar um Sintético de Real através de um DLC. Sua diversificação ajuda a suavizar a volatilidade da cesta de colateral. Se o preço do Bitcoin cair bruscamente, mas o ouro e dólar se mantiverem estáveis, o valor total do colateral de Alice não será tão impactado. Isso reduz significativamente a probabilidade de uma chamada de margem forçar o encerramento prematuro de seu contrato de Sintético de Real.

Além disso, os usuários podem criar cestas de colateral personalizadas que melhor se adequem ao seu perfil de risco e expectativas para o contrato específico.

Em análises de Value-at-Risk (VaR), foi possível quantificar os benefícios da diversificação na redução de risco ao se utilizar múltiplos ativos como colateral. Utilizando apenas Bitcoin como colateral, usando 1 dia como período, 99% de confiança e dados diários a partir de 2014, a quantidade em risco de ser perdida é de 8,25%. Com apenas dólar como colateral, é 1,81% e com apenas ouro é 2,14%. Agora, utilizando os 3 ativos em conjunto, na proporção de 1/3 cada, encontra-se o menor risco de todos: apenas 1%. Embora pareça contra intuitivo, isso ocorre porque o preço desses ativos tem baixa correlação: tendem a subir e descer em períodos separados. Ou seja, fica matematicamente determinado que é 8 vezes mais seguro utilizar múltiplos ativos como colateral do que apenas o Bitcoin.

15. Referências

  1. Dryja, T. (2018). Discreet Log Contracts. Whitepaper.
  2. Mankiw, N. G. (2019). Macroeconomics. Livro.
  3. Schramm, A. Bitcoin, o sistema de liquidação final. Artigo.
  4. Amoedo, R. Stables bancárias, algorítmicas e sintéticos. Artigo.
  5. Hayek, F. A. (1976). A Desestatização do Dinheiro. Livro.
  6. Kim, W. C., & Mauborgne, R. (2005). Blue Ocean Strategy. Harvard Business Review Press.
  7. Credit Suisse. Lombard Loans.
  8. Investopedia. Gresham's Law.